1. O QUE É A QUARTA-FEIRA DE CINZAS?
Na quarta-feira antes do primeiro domingo da Quaresma os
fiéis, recebendo as cinzas, entram no tempo destinado à purificação da alma.
Com este rito penitencial, surgido da tradição bíblica e conservado na tradição
litúrgica até os nossos dias, é indicada a condição do homem pecador, que
exteriormente confessa a sua culpa diante de Deus e exprime assim a vontade de
conversão interior, na esperança que o Senhor seja misericordioso para com ele.
Por meio deste mesmo sinal inicia o caminho de conversão, que alcançará a sua
meta na celebração do sacramento da Penitência nos dias antes da Páscoa. A
bênção e imposição das cinzas são realizadas durante a missa ou também fora da
missa. Nesse caso, permite-se a liturgia da Palavra, concluída com a oração dos
fiéis.
2. COMO E ONDE SURGIU O USO LITÚRGICO DAS CINZAS?
O uso litúrgico das cinzas tem sua origem no Antigo
Testamento. Na tradição bíblica, como na maioria das religiões antigas, as
cinzas simbolizam a insignificância humana, sua fugacidade e precariedade.
Assim, no livro de Gênesis: »Estou corajoso para falar
ao meu Senhor, eu que sou pó e cinza » (Gn 18, 27).
As cinzas também simbolizavam dor, morte e penitência. Por
exemplo, no livro de Ester, Mardoqueu se veste de saco e se cobre de cinzas
quando soube do decreto do Rei Asuer I da Pérsia que condenou à morte
todos os judeus de seu império. (Est 4,1).
Jó mostrou seu arrependimento vestindo-se de saco e
cobrindo-se de cinzas (Jó 42,6).
Daniel, ao profetizar a captura de Jerusalém pela Babilônia,
escreveu: “Volvi-me para o Senhor Deus a fim de dirigir-lhe uma oração de
súplica, jejuando e me impondo o cilício e a cinza” (Dn 9,3).
No século V antes de Cristo, logo depois da pregação de
Jonas, o povo de Nínive proclamou um jejum a todos e se vestiram de saco, inclusive
o Rei, que além de tudo levantou-se de seu trono e sentou sobre cinzas (Jn
3,5-6).
Estes exemplos retirados do Antigo Testamento demonstram
a prática estabelecida de utilizar-se cinzas como símbolo (algo que todos
compreendiam) de arrependimento. Mas também Jesus fez referência ao
uso das cinzas. A respeito daqueles povos que recusavam-se a se arrepender de
seus pecados, apesar de terem visto os milagres e escutado a Boa Nova, Nosso
Senhor proferiu: “Ai de ti, Corozaim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem
sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há
muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e as cinzas. (Mt 11,21).
3. QUAL É A ORIGEM DA CELEBRAÇÃO DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS
NA IGREJA?
A Igreja, desde os primeiros tempos, continuou a
prática do uso das cinzas com o mesmo sentido penitencial. Em seu livro “De
Poenitentia” , Tertuliano (160-220 d.C), prescreveu que um penitente
deveria “viver sem alegria vestido com um tecido de saco rude e coberto de
cinzas“. O famoso historiador dos primeiros anos da igreja, Eusébio (260-340
d.C), relata em seu livro “A História da Igreja”, como um apóstata de nome
Natalis se apresentou vestido de saco e coberto de cinzas diante do Papa
Ceferino, para suplicar-lhe perdão. Sabe-se que num determinado momento existiu
uma prática que consistia no sacerdote impor as cinzas em todos aqueles que
deviam fazer penitência pública. As cinzas eram colocadas quando o penitente
saía do Confessionário.
Já no período medieval, por volta do século VIII,
aquelas pessoas que estavam para morrer eram deitadas no chão sobre um tecido
de saco coberto de cinzas. O sacerdote benzia o moribundo com água benta
dizendo-lhe: “Recorda-te que és pó e em pó te converterás“. Depois de aspergir
o moribundo com a água benta, o sacerdote perguntava: “Estás de acordo com o
tecido de saco e as cinzas como testemunho de tua penitência diante do Senhor
no dia do Juízo?” O moribundo então respondia: “Sim, estou de acordo”. Se podem
apreciar em todos esses exemplos que o simbolismo do tecido de saco e das
cinzas serviam para representar os sentimentos de aflição e arrependimento, bem
como a intenção de se fazer penitência pelos pecados cometidos contra o Senhor
e a Sua igreja.
Foi a partir de todas essas experiências que a
celebração da Quarta-Feira de Cinza foi surgindo na Igreja. Era um gesto
aplicado aos penitentes, que marcavam sua entrada em um tempo de arrependimento
para a reconciliação, celebrado na Quinta-feira Santa. Naquela época, o
sacramento da reconciliação era celebrado apenas uma vez na vida. Considerado
uma « segunda salvação » para os batizados que tenham cometido uma
infração grave, foi precedida por uma penitência particularmente rigorosa,
marcada pela mortificação corporal. A partir do século XI, o gesto da
imposição das cinzas, parte de um rito menos rigoroso, foi estendido a todos os
cristãos no caminho para a Páscoa.
4. POR QUE CONTINUAMOS A CELEBRAR O RITO DA IMPOSIÇÃO DAS
CINZAS?
A cinza é um símbolo. Sua função está descrita em um
importante documento da Igreja, mais precisamente no artigo 125 do Diretório
sobre a piedade popular e a liturgia:
“O começo dos quarenta dias de penitência, no Rito romano,
caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da
Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ritos nos quais os pecadores
convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de cobrir-se com
cinza tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que
precisa ser redimida pela misericórdia de Deus. Este não era um gesto puramente
exterior, a Igreja o conservou como sinal da atitude do coração penitente que
cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Devem ajudar aos
fiéis, que vão receber as Cinzas, para que aprendam o significado interior que
este gesto tem, que abre a cada pessoa a conversão e ao esforço da renovação
pascal”.
5. O QUE SIMBOLIZAM E O QUE RECORDAM AS CINZAS?
A palavra cinza, que provém do latim “cinis”, representa o
produto da combustão de algo pelo fogo. Esta adotou desde muito cedo um sentido
simbólico de morte, expiração, mas também de humildade e penitência. A cinza,
como sinal de humildade, recorda ao cristão a sua origem e o seu fim: “E
formou o Senhor Deus o homem do pó da terra” (Gn 2,7); “até que te tornes à terra;
porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3,19).
6. COMO SÃO PREPARADOS AS CINZAS?
Para a cerimônia devem ser queimados os restos dos ramos
abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. Estes recebem água benta e logo
são aromatizados com incenso.
7. COMO SE IMPÕE AS CINZAS?
Este ato acontece durante a Missa, depois da homilia. As
cinzas são impostas na fronte, em forma de cruz, enquanto o ministro pronuncia
as palavras Bíblicas: “és pó e em pó te tornarás” ou “convertam-se e creia
no Evangelho”.
8. QUEM PODE IMPOR AS CINZAS?
Em resposta a uma pergunta feita pela Comissão Litúrgica dos
Bispos Americanos em 30 de Janeiro de 1975, a Secretaria da Sagrada Congregação
para os Sacramentos e para o culto divino deu a seguinte resposta :
Os Ministros extraordinários (eucarísticos) não podem
abençoar as Cinzas, mas podem ajudar o Celebrante na sua imposição, e até,
quando não houver sacerdote e as Cinzas já estiverem abençoadas, podem impô-las
por si mesmos.
Portanto, esta resposta indica que qualquer pessoa pode
ser convidada ou encarregada de impor as Cinzas, mas não as pode abençoar. E
por que não? O Catecismo nos responde: “Todo batizado é chamado a abençoar, eis
por que os leigos podem presidir certas bençãos. Todavia, quanto mais uma
benção se referir à vida eclesial e sacramental, tanto mais sua presidência
será reservada ao ministério ordenado – bispos, presbíteros ou diáconos” (CIC
1669). Isso significa dizer que, uma vez que a imposição das cinzas faz
referência ao Sacramento da Penitência, nos convidando à conversão, as
cinzas para tornar-se um sinal sacramental precisam, portanto, ser antes
abençoadas por um Ministro Ordenado.
9. A QUARTA-FEIRA DE CINZAS É DE DIA DE PRECEITO?
A Quarta-feira de Cinzas não é uma ordem e, portanto, não é
obrigatória. Porém, participar da missa nesse dia é recomendável, porque ele
nos introduz precisamente no itinerário quaresmal rumo às celebrações do tríduo
pascal.
10. AFINAL, O QUE É OBRIGATÓRIO ENTÃO NA QUARTA-FEIRA DE
CINZAS?
Por ser um dia penitencial, o jejum e abstinência são
obrigatórios durante a Quarta-feira de Cinzas, como também na Sexta-feira
Santa, para as pessoas maiores de 18 e menores de 60 anos. Fora desses limites,
é opcional. Nesse dia, os fiéis podem ter uma refeição “principal” uma vez
durante o dia. A abstinência de comer carne é obrigatória a partir dos 14 anos.
Todas as sextas-feiras da Quaresma também são de abstinência obrigatória. As
outras Sextas-Feiras do ano também, embora hoje em dia poucos conheçam este
preceito.
Fonte: Blog Youcat Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário