Este Papa do início da nossa Igreja era um homem piedoso e
santo, mas de personalidade pouco marcada
São Silvestre I apagou-se ao lado de um Imperador culto e
ousado como Constantino, o qual, mais que servi-lo se terá antes servido dele,
da sua simplicidade e humanidade, agindo por vezes como verdadeiro Bispo da
Igreja, sobretudo no Oriente, onde recebe o nome de Isapóstolo, isto é,
igual aos apóstolos.
E na realidade, nos assuntos externos da Igreja, o Imperador
considerava-se acima dos próprios Bispos, o Bispo dos Bispos, com
inevitáveis intromissões nos próprios assuntos internos, uma vez que, com a sua
mentalidade ainda pagã, não estava capacitado para entender e aceitar um poder
espiritual diferente e acima do civil ou político.
E talvez São Silvestre, na sua simplicidade, tivesse sido o
Papa ideal para a circunstância. Outro Papa mais exigente, mais cioso da sua
autoridade, teria irritado a megalomania de Constantino, perdendo a sua
proteção. Ainda estava muito viva a lembrança dos horrores por que passara a
Igreja no reinado de Diocleciano, e São Silvestre, testemunha dessa perseguição
que ameaçou subverter por completo a Igreja, terá preferido agradecer este dom
inesperado da proteção imperial e agir com moderação e prudência.
Constantino terá certamente exorbitado. Mas isso ter-se-á
devido ao desejo de manter a paz no Império, ameaçada por dissenções
ideológicas da Igreja, como na questão do donatismo que, apesar de já condenado
no pontificado anterior, se vê de novo discutido, em 316, por iniciativa sua.
Dois anos depois, gerou-se nova agitação doutrinária mais
perigosa, com origem na pregação de Ario, sacerdote alexandrino que negava a
divindade da segunda Pessoa e, consequentemente, o mistério da Santíssima
Trindade. Constantino, inteirado da agitação doutrinária, manda mais uma vez
convocar os Bispos do Império para dirimirem a questão. Sabemos pelo Liber
Pontificalis, por Eusébio e Santo Atanásio, que o Papa dá o seu acordo, e
envia, como representantes seus, Ósio, Bispo de Córdova, acompanhado por dois
presbíteros.
Ele, como dignidade suprema, não se imiscuiria nas disputas,
reservando-se a aprovação do veredito final. Além disso, não convinha parecer
demasiado submisso ao Imperador.
Foi o primeiro Concílio Ecumênico (universal) que reuniu em
Niceia, no ano 325, mais de 300 Bispos, com o próprio Imperador a presidir em
lugar de honra. Os Padres conciliares não tiveram dificuldade em fazer
prevalecer a doutrina recebida dos Apóstolos sobre a divindade de Cristo,
proposta energicamente pelo Bispo de Alexandria, Santo Atanásio. A heresia de
Ario foi condenada sem hesitação e a ortodoxia trinitária ficou exarada no
chamado Símbolo Niceno ou Credo, ratificado por S. Silvestre.
Constantino, satisfeito com a união estabelecida, parte no
ano seguinte para as margens do Bósforo onde, em 330, inaugura Constantinopla,
a que seria a nova capital do Império, eixo nevrálgico entre o Oriente e o
Ocidente, até à sua queda em poder dos turcos otomanos, em 1453.
Data dessa altura a chamada doação constantiniana, mediante
a qual o Imperador entrega à Igreja, na pessoa de S. Silvestre, a Domus
Faustae, Casa de Fausta, sua esposa, ou palácio imperial de Latrão
(residência papal até Leão XI), junto ao qual se ergueria uma grandiosa
basílica de cinco naves, dedicada a Cristo Salvador e mais tarde a S. João
Batista e S. João Evangelista (futura e atual catedral episcopal de Roma, S.
João de Latrão). Mais tarde, doaria igualmente a própria cidade.
Depois de um longo pontificado, cheio de acontecimentos e
transformações profundas na vida da Igreja, morre S. Silvestre I no último dia
do ano 335, dia em que a Igreja venera a sua memória. Sepultado no cemitério de
Priscila, os seus restos mortais seriam transladados por Paulo I (757-767) para
a igreja erguida em sua memória.
São Silvestre, rogai por nós!
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